16 de dez. de 2008

Gênese da palavra

quando escrevo
minha alma descansa
aquieta o ar na garganta
liberta as palavras e canta
as energias invisíveis

quando aperto a caneta azul
entre os dedos da mão direita
até doer as falanges precisas
sobre a imaculada folha branca
respiro o alívio de saber só de mim

enquanto escrevo pensamentos
permito que a maciez do cobertor
acaricie meu corpo exausto
isentando a matéria densa
dos tributos da existência

quando acendo o cordão de prata
conduzo meu espírito aprendiz
à infinitude primordial da palavra
que subscreve o sopro do universo
há milhões de anos-luz de mim

então escrevo como quem ama
sob um firmamento amparado
por estrelas vivas e distantes
esquecidas no céu por um viajante
guiado pelo vigor da saudade

escrevo no ardor de meus músculos
na dor compungida de meus ossos
rogando às palavras que transpirem
arfando sentidos em cada poro
curando a alma da extinção


Márcia Corrêa
(Tela: Mulher Escrevendo, de Henri Lebasque)

2 comentários:

Iêda disse...

Oi Márcia,

vejo o escrever como uma forma de respirar, de curar-se, de encontrar sentido, de ordenar o caos, de existir.

Linda a sua poesia.

abraços e uma ótima semana para você,
Iêda

Márcia Corrêa disse...

É assim mesmo, Ieda, mesmo que às vezes cause dor e insônia. Boa semana pra você também.