8 de nov. de 2011

O Evangelho Segundo São Mateus, no Palco Giratório

Um grupo de padeiros/artistas, enquanto fazem pão e ensinam a receita para o público, conversam sobre o Evangelho de São Mateus e, de forma descontraída, engraçada e sincera, buscam compreender o significado da expressão “ama a teu próximo como a ti mesmo”, à luz de filósofos e poetas, como Nietzsche, Pasolini, Dostoiévski, Clarice Lispector e Fernando Pessoa. Paralelamente à ação de fazer o pão, um menino e sua mãe interpretam o 8º. Poema do Guardador de Rebanhos de Fernando Pessoa, que conta de um tal Menino Jesus que fugiu do céu e fez-se novamente menino e livre. Um espetáculo que reúne humanismo e celebra o amor e a liberdade. Com a feitura do pão, um suave manifesto contra os preconceitos, as guerras, a violência e o desamor.

Dia 10 de novembro
No Teatro das Bacabeiras
Às 21 horas
Classificação etária: 14 ANOS
Ingressos: R$ 5,00

Ficha técnica:
Texto/concepção – Edson Bueno
Adaptação e Direção: Edson Bueno
Trilha sonora: Marco Novack
Iluminação: Beto Bruel
Cenografia: Gelson Amaral
Figurinos: Áldice Lopes

Grupo Delírio Cia de Teatro / PR
Elenco
Regina Bastos – Guilherme Fernandes – Gustavo Saulle – Janja – Edson Bueno

Técnicos:
Operação de Luz – Fernando Albuquerque
Operação de Som – Tiago Luz

3 de nov. de 2011

Um dia refinado

O quintal da casa de minha mãe tem a largura da tranquilidade. Por ele circulam vários ventos, tão conscientes de sua função de alegrar, que lembram uma fanfarra colorida a tocar dobrados no alto do coreto da pracinha de interior. A plateia barulhenta é formada por famílias inteiras de periquitos fanfarrões, abancados em duas enormes e frondosas mangueiras velhas, lindas, majestosas.
Meu rosto, marcado por compenetradas linhas de tensão, costuma tirar férias por tempo indeterminado quando está por lá. Faço cruzeiro no mar da quietude, pois que o dia é sempre lindo, sob a luz intensa do sol ou sob o acolhimento da chuva. Não há desassossego, uma vez que anjos escolheram o quintal de minha mãe para fazer pousada, entre uma missão e outra no socorro aos homens da Terra.
Nesse dia, por ser Finados, o rádio toca lindas composições feitas por artistas que deixaram no planeta a marca do bem-dizer as coisas da alma da gente. E os que se foram - nossos entes queridos ou nem tanto, nada tem de objeto do passado. São agora assunto do futuro, das próximas encarnações, quando com eles estaremos novamente ajustando as sintonias que ficaram por ajustar.
A caminhada é contínua, ininterrupta e os reencontros inevitáveis. Como vovô Gepeto, Deus nos cria “bonecos de madeira” e nos sopra a vida, agregando a ela o presente do livre arbítrio. Feito Pinóchios, saímos pelas vidas – incontáveis, correndo atrás de ilusões até que as quedas e decepções moldem nossos valores e nos transformem em gente de verdade.
Entre uma existência e outra a passagem, que chamamos vulgarmente de morte. Sendo assim, mais prudente do que chorar o que passou, é planejar com amor e pensamento reto o futuro.
Há meio quarteirão do cemitério, o quintal de minha mãe nada tem de mórbido. Ao contrário, é síntese de vida, onde a saudade entra sem jeito e sai de fininho. Quando eu me for para as cidades espirituais aprender, trabalhar e lapidar meu retorno, por favor, não acendam velas nem percam tempo com buquês de flores arrancadas covardemente de suas hastes na terra.

Façam preces num quintal ventilado, balançando uma cadeira de macarrão colorido e ouvindo boa música. Plantem jardins, e cada flor que deles brotar vai alegrar meu coração onde estiver.