7 de jul. de 2009

Araciara Macedo: Decreto da saudade

Araciara Macedo/Arquivo Orkut
Kayke

Meus olhos já não conseguem ver com clareza teus traços nas fotografias, as mesmas fotografias que insistias em esconder de mim porque, como dizias, te pertenciam. Não preciso de óculos para ver com clareza, enxergo com os olhos do coração, com os olhos da alma arrebentada de saudades.

Na nossa casa estão espalhados pedacinhos de ti, pedaços que são descobertos quando menos esperamos uma assinatura em um pedaço de papel esquecido na gaveta, uma pagina de livro rabiscada no parágrafo que estavas lendo, a chave da cozinha, um CD com teu nome escrito. Uma camisa, a cueca do Piu-Piu, lembranças tuas que nos fazem rir e chorar.

Quatro anos mãe, como a gente está agüentando ficar tanto tempo longe dele? Disse-me a Ariel dia desses na volta da aula, com os olhos brilhando com lágrimas que tentou esconder de mim. Quatro anos, penso eu neste momento, como estamos conseguindo seguir em frente?

Quatro anos, disse teu pai com o rosto retorcido de tristeza durante nosso evangelho especial pra ti.

Quatro anos, meu anjo, e nós seguiremos em frente porque é assim que tem que ser.

www.altardaluacrescente.blogspot.com


PS: Há quatro anos o jovem Kayke, filho da escritora e produtora cultural Araciara Macedo e do cantor e compositor Zé Miguel foi assassinado no acostamento da Rodovia Duque de Caxias, em Macapá-AP, por outro jovem que dirigia bêbado e em alta velocidade. Depois de sua morte o casal levantou diversas camapnhas pela paz no trânsito. Porém, Macapá ainda figura entre as capitais com maior número proporcional de acidentes no trânsito. Esses acidentes, em sua grande maioria, estão associados à combinação do consumo de álcool com direção.

4 comentários:

Maracimoni disse...

Araciara, minha querida:

Como a dor faz brotar palavras tao bonitas..tao fortes..tao intensas..
Sigam em frente, amparados pelo conforto de Deus.

Um abraco apertado

araciara disse...

As pessoas costumam perguntar como estamos seguindo em frente, a resposta para esta perguntar esta na força que arrancamos do peito com o tamanho da nossa dor. Dor não de revolta, não de raiva, a nossa dor é de saudades. Saudades do cheiro, do toque, da gargalhada.
A força vem do sorriso da Ariel, do cheirinho de lavanda do cabelo do Benjamim. A força vem da certeza que temos de um reencontro que será repleto de felicidades.

Lilian disse...

Parece que foi ontem...
Eu que não conheci o Kaike fiquei tão triste, imagino a dor da Araciara e do Zé Miguel...
Só posso dizer que sinto, sinto tão intensamente que não haja volta, que nada do que se faça possa trazê-lo de volta...
Força, fé e muita paz pra vcs.

Ju Corrêa disse...

Tranformaram a Dor em atitude, em desejo de mudança. Isso é louvável. Quando esse reencontro acontecer, realmente ele vai ser muito aconchegante. Deus o tem!