Amanhece a quinta-feira preguiçosa sob espesso manto de nuvens sisudas de guardar temporais. Manhã de silêncio na velha casa de meu pai. A paz ouve atenta o barulho da chuva forte, tão forte que arrepia tufos de vento e água invadindo o batente da porta do quintal. É linda a chuva assim desmedida. Faz a gente chover com ela por dentro, deixar vir a enxurrada de tudo que é sentimento, mergulhar na força viva do tempo.
Enquanto espio o quintal assim encharcado, meu coração pede música ao maestro das vivências, aquele ser invisível que sonoriza e conta nossa história em poesia e melodia, atando canções nas vestes da alma da gente. “A correnteza do rio / vai levando aquela flor / o meu bem já está dormindo / zombando do meu amor... e choveu uma semana / e eu não vi o meu amor”.
A mão conduzida pelo mistério apanhou sem ver o CD Djavan Novelas, trilha perfeita para a manhã que se insinua feito pausa no tempo.
A casa está repleta de meninas, um jardim de filhas, sobrinhas e amiguinhas. E todas dormem a preguiça da chuva enquanto preparo o café com sanduíches saborosos de forno. Com elas a atmosfera respira alegrias, risos, segredinhos, sonhos, fantasias... Tão bom! “Esse imenso desmedido amor / vai além de seja o que for / vai além de onde eu vou / do que sou / minha dor / minha Linha do Equador”.
Há uma mensagem escrita a lápis d’água em cor de luz no ar. As dores desse mundo serão varridas, as feridas que latejam a vida serão curadas e a Terra mãe sagrada acolherá o perdão em socorro dos homens. Até lá, a mesura da destruição. Até lá, o suplício da devastação. “Assim que o dia amanheceu / lá no mar alto da paixão / dava pra ver o tempo ruir... Amar é um deserto e seus temores”.
Até daqui a pouco é tão longe quanto longe é a imensidão da floresta. E enquanto penso em lonjuras os bem-te-vis vão surgindo pelas cordas, galhos do quintal e nos beirais do telhado. É assim sempre que a chuva sobe a cortina mais densa e deixa ficar aquele véu fininho em forma de chuvisco fazendo a alegria dos passarinhos. Eles fazem farra na goiabeira de cá e no mamoeiro da vizinha. “És manhã na natureza das flores”.
“E o que é o sofrer / pra mim que estou jurado / pra morrer de amor?”.
Manhã mais alta e a Flor sai do quarto numa felicidade só. Dorminhoca feito a dona, preenche o tapete fofo em forma de coração, costurado em retalhos vermelhos, enquanto Juliana dorme. Quando sai parece rir e dizer ‘cheguei!’. Vem fuçando o pé da gente com o narizinho gelado, depois pula no colo e põe os olhinhos pretos bem na direção dos nossos como quem quer falar.
Basta um gesto de retribuição e ela se derrama no chão com a barriguinha rosada para cima esperando afago. Flor é um ser elevado, comovente, mais que gente. Um anjo irradiador de felicidade disfarçado de bola de lã encardida. Sem ela por perto tudo se perde em melancolia. “Sorri quando tudo terminar / quando nada mais restar / do teu sonho encantador”.
Depois da chuva o calor, o dia que se movimenta. A sensação de acordar não do sono do corpo, que esse ficou nos confins da madrugada, mas desse estado d’alma que nos recoloca no mundo de um jeito delicado, mais completo e ao mesmo tempo mais sedento de delicadezas. “Veja o sol / é demais essa cidade / a gente vai ter um dia de calor...”.
Enquanto espio o quintal assim encharcado, meu coração pede música ao maestro das vivências, aquele ser invisível que sonoriza e conta nossa história em poesia e melodia, atando canções nas vestes da alma da gente. “A correnteza do rio / vai levando aquela flor / o meu bem já está dormindo / zombando do meu amor... e choveu uma semana / e eu não vi o meu amor”.
A mão conduzida pelo mistério apanhou sem ver o CD Djavan Novelas, trilha perfeita para a manhã que se insinua feito pausa no tempo.
A casa está repleta de meninas, um jardim de filhas, sobrinhas e amiguinhas. E todas dormem a preguiça da chuva enquanto preparo o café com sanduíches saborosos de forno. Com elas a atmosfera respira alegrias, risos, segredinhos, sonhos, fantasias... Tão bom! “Esse imenso desmedido amor / vai além de seja o que for / vai além de onde eu vou / do que sou / minha dor / minha Linha do Equador”.
Há uma mensagem escrita a lápis d’água em cor de luz no ar. As dores desse mundo serão varridas, as feridas que latejam a vida serão curadas e a Terra mãe sagrada acolherá o perdão em socorro dos homens. Até lá, a mesura da destruição. Até lá, o suplício da devastação. “Assim que o dia amanheceu / lá no mar alto da paixão / dava pra ver o tempo ruir... Amar é um deserto e seus temores”.
Até daqui a pouco é tão longe quanto longe é a imensidão da floresta. E enquanto penso em lonjuras os bem-te-vis vão surgindo pelas cordas, galhos do quintal e nos beirais do telhado. É assim sempre que a chuva sobe a cortina mais densa e deixa ficar aquele véu fininho em forma de chuvisco fazendo a alegria dos passarinhos. Eles fazem farra na goiabeira de cá e no mamoeiro da vizinha. “És manhã na natureza das flores”.
“E o que é o sofrer / pra mim que estou jurado / pra morrer de amor?”.
Manhã mais alta e a Flor sai do quarto numa felicidade só. Dorminhoca feito a dona, preenche o tapete fofo em forma de coração, costurado em retalhos vermelhos, enquanto Juliana dorme. Quando sai parece rir e dizer ‘cheguei!’. Vem fuçando o pé da gente com o narizinho gelado, depois pula no colo e põe os olhinhos pretos bem na direção dos nossos como quem quer falar.
Basta um gesto de retribuição e ela se derrama no chão com a barriguinha rosada para cima esperando afago. Flor é um ser elevado, comovente, mais que gente. Um anjo irradiador de felicidade disfarçado de bola de lã encardida. Sem ela por perto tudo se perde em melancolia. “Sorri quando tudo terminar / quando nada mais restar / do teu sonho encantador”.
Depois da chuva o calor, o dia que se movimenta. A sensação de acordar não do sono do corpo, que esse ficou nos confins da madrugada, mas desse estado d’alma que nos recoloca no mundo de um jeito delicado, mais completo e ao mesmo tempo mais sedento de delicadezas. “Veja o sol / é demais essa cidade / a gente vai ter um dia de calor...”.
Trilha
Correnteza (Tom Jobim e Luiz Bonfá)
Linha do Equador (Djavan e Caetano Veloso)
Oceano (Djavan)
Nem um dia (Djavan)
Meu bemquerer (Djavan)
Sorri/Smile (Charles Chaplin, G. Parsons, J. Turner - Vs. Braguinha)
Cigano (Djavan)
4 comentários:
"Basta um gesto de retribuição e ela se derrama no chão com a barriguinha rosada para cima esperando afago".
Dá pra sentir o carinho quentinho.
Essa chuva no telhado, quintal
encharcado, galhos e beirais e
algazarra doce de passarinhos...
Tudo lembra a minha infância!
Tudo me é familiar!
Adorei, minha amiga!
Ainda mais com essa
trilha sonora!
Muitos dias assim, de paz
e beleza pra você!!
Lindo texto...
Abraço! =)
Adorei. Beijos
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