23 de jun. de 2009

Entrechuvas

Marcar estava marcado, mas as horas nessa cidade passam ao sabor do vaivém das chuvas frondosas de final de inverno. Sim, o inverno do Brasil cá de cima está num custar de ir para deixar vir a torrente de energia solar que ilumina os dias de verão no Equador.

Enquanto isso a gente vai de espera em espera brechando os lapsos do tempo pra sair de casa entre uma chuva e outra. E foi num limpar de céu de meio de tarde que saí para encontrar minha amiga Ângela na charmosa livraria Transa Amazônica, bem no centro de Macapá.

Lugar de estacionar com paciência, pisar com cuidado e escapar das poças formadas no rente das calçadas incertas. Gente indo, gente vindo, caixa de som vendendo sapatos, uma animação só. Lá no fundo do corredor da galeria, no meio do quarteirão da av. Pe. Júlio, a livraria. E o furdunço da rua de repente fica tão longe que parece nem mais existir.

Antes a boa conversa de Ângela, livros, música, gente, arte... Depois a encomenda. Fui buscar o livro “Lugar da Chuva”, da escritora paranaense radicada no Amapá, Luli Rojanski. Presente para uma amiga nova, Jac Rizzo, que ainda não conheço pessoalmente. Coisas desse mundo mágico da Internet. E vou tagarelando enquanto Ângela esquenta o café e traz com bolachinhas salgadas e também põe pra tocar o CD do Lui Coimbra.

E aí vem o fio de pensamento que me trouxe aqui para essa croniqueta de fim de tarde. Vez por outra leio e ouço manifestações angustiadas, aflitas de pessoas que tem uma relação de amor e ódio com a Internet. Que a rede estabelece relações impessoais, que é um instrumento de afastar pessoas do contato pessoal, que os sites de relacionamento são lugares de exposição da vida privada e isso e aquilo.

Ouço e leio com atenção e até penso um pouco pra tentar entender essa angústia. Mas, sinceramente, não consigo levar muito a sério. As coisas começam na gente. Nosso olhar sobre o mundo e sobre as pessoas é que determina o como nos relacionamos com elas. Amigos de Internet não são anomalias de um mundo desumano e individualista. São sintonias que desenham possíveis afetos de um pra sempre que nem sempre demora.

Enquanto reflito faço o pacote com o livro de Luli, mais a obra poética “Oração de floresta e rio”, do poeta goiano radicado no Pará, Marcos Quinan. Penso com alegria no momento em que o presente chegará pelos correios às mãos de Jac, que mora no alto de uma paisagem pintada em uma janela do Rio de Janeiro. Nossas chuvas, floresta e rios estarão em boas mãos e sob a luz de sensíveis olhos. E um coração de longe vai se alegrar. É o que importa.

Um comentário:

jac rizzo disse...

Emoção, só emoção é o nome
do que sinto!!
E ele nem me chegou às mãos,
ainda...o presente!
Os meus amigos do norte...quanta
alegria me trazem!
Como mantém meu coração aquecido,
neste inverno, que aqui no Rio é
doce e leve. Sei das chuvas nessa
região de florestas...mas gosto
tanto das águas!

E querida amiga, bendita essa internet,
que me levou até vocês!!

E do fundo do coração e da alma
te mando todo meu carinho!