Num reino distante cercado por desertos de nuvens resistia viva a rainha solitária e nua. Trazia na cabeça chapéu de fitas coloridas e percorria sem sorrisos os caminhos ocultos de seu reino azul. Há séculos havia mandado embora todos os súditos; não lhe aquecia o coração a idéia de ter a seus pés outros seres pensantes sem autonomia para pensar.
Mesmo sob a ameaça assombrosa da solidão, permanecia.
Guerreava com armas de lucidez contra os exércitos poderosos da vaidade e do orgulho, que atravessavam invernos por entre as nuvens densas dos desertos. Queriam conquistar seu reino azul, mas ela resistia. E era tanta sede por lucidez e tantas batalhas por travar que a rainha nua abandonava pelo caminho, sem perceber o perigo, seu manto colorido de alegria, ornado com finos fios de jovialidade.
Até que um dia, tomada de espanto, viu-se abandonada ao frio da noite de ventania. Buscava agasalho no manto que desaparecera, e ainda que lhe restasse o chapéu de fitas coloridas, feito em tramas da mesma alegria, não lhe era mais suficiente para cobrir de calor a noite fria. Tal foi seu assombro, que ela cobriu o rosto num quase desespero e viu suas lágrimas brotarem de um além-dor que a consumia.
...
Agora, trazia a ilusão em forma de pedra pendurada num colar de contas de sal, que lhe descia pelo pescoço até a altura dos seios. Apertou-a nas mãos e sentiu por um instante que os exércitos do orgulho e da vaidade já não mais representavam ameaças vorazes. Estavam enfraquecidos, guardados no passado enclausurado nas contas de sal. Restava-lhe uma nova e longa cruzada, desta vez em busca do manto perdido.
Mesmo sob a ameaça assombrosa da solidão, permanecia.
Guerreava com armas de lucidez contra os exércitos poderosos da vaidade e do orgulho, que atravessavam invernos por entre as nuvens densas dos desertos. Queriam conquistar seu reino azul, mas ela resistia. E era tanta sede por lucidez e tantas batalhas por travar que a rainha nua abandonava pelo caminho, sem perceber o perigo, seu manto colorido de alegria, ornado com finos fios de jovialidade.
Até que um dia, tomada de espanto, viu-se abandonada ao frio da noite de ventania. Buscava agasalho no manto que desaparecera, e ainda que lhe restasse o chapéu de fitas coloridas, feito em tramas da mesma alegria, não lhe era mais suficiente para cobrir de calor a noite fria. Tal foi seu assombro, que ela cobriu o rosto num quase desespero e viu suas lágrimas brotarem de um além-dor que a consumia.
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Agora, trazia a ilusão em forma de pedra pendurada num colar de contas de sal, que lhe descia pelo pescoço até a altura dos seios. Apertou-a nas mãos e sentiu por um instante que os exércitos do orgulho e da vaidade já não mais representavam ameaças vorazes. Estavam enfraquecidos, guardados no passado enclausurado nas contas de sal. Restava-lhe uma nova e longa cruzada, desta vez em busca do manto perdido.
Um comentário:
poucas pessoas tem a sutileza para escrever com tanta suavidade. parabés querida
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