A cantora e compositora Ana Martel é a primeira artista amapaense a gravar um CD com incentivo da Lei Rouanet. O caminho para conseguir o financiamento foi longo, mas a conquista tem sabor de fruto maduro. A cantora está em fase de finalização do CD “Sou Ana”, que tem oito músicas de sua autoria e três de outros compositores. Um trabalho autoral e eclético, com marabaixo, samba, word music e o que se convencionou chamar de música regional.
A música que dá nome ao CD, “Sou Ana”, nasceu de um poema feito pelo compositor acreano Sérgio Souto em homenagem à cantora, que ganhou melodia de Enrico Di Miceli. Duas músicas são de Joãozinho Gomes e Val Milhomem e dos paraenses Marcelo Siroteu, Ubiratan Porto e Paulinho Moura. Mais oito canções compõem o álbum. Dessas, sete são só dela, letra e música, e uma é fruto de parceria com Zé Miguel.
O diretor musical Luiz Pardal foi fundamental na decisão do repertório mais autoral. Ele foi ouvindo, conhecendo e gostando do trabalho da compositora. No final definiu o repertório junto com ela, mas recomendando fortemente que suas músicas permanecessem no disco. Com todas as canções gravadas, o CD agora está em fase de mixagem.
“Sou Ana” foi todo feito com contrabaixo acústico e cordas. “E eu queria que ele soasse bem artesanal. As caixas de marabaixo estão límpidas. Não tem nada eletrônico”, explica a artista. O público pode esperar um repertório versátil, como a cantora se auto-define: “é um CD que é a Ana do Amapá, da Amazônia, uma pessoa versátil que canta de tudo”. Ana Martel conta com participações especiais das cantoras Andressa Nascimento, de Roraima e Patrícia Bastos, do Amapá.
O lançamento está previsto para agosto deste ano. Além da produção executiva de Paulo Andrade, o trabalho conta com a produção de show de Clícia Vieira e Claudiomar Silva. E tem Nayara Martel, filha da cantora, como responsável pela concepção do encarte, pela análise de repertório e pelos figurinos. A apresentação gráfica do CD é outro elemento que chama atenção pela qualidade e pelo requinte.
O projeto
Não é fácil captar recursos para um projeto cultural no Brasil, mesmo com anuência da Lei Rouanet. O produtor executivo de Ana Martel, seu marido Paulo Andrade, enviou ao Ministério da Cultura o primeiro projeto em 2005, que foi aprovado, mas arquivado por falta de patrocínio. Após aprovados pelo MinC, através dos mecanismos de incentivo da Lei, os projetos partem para a captação de recursos, e aí começa a maratona que raras vezes tem sucesso.
Uma vez aprovado, o projeto tem prazo de um ano, prorrogável por mais um, para captar recursos junto às empresas, que têm como contrapartida benefícios em forma de incentivos fiscais. Na segunda tentativa a produção da cantora amapaense conseguiu o patrocínio no limite do prazo, assim mesmo depois de idas e vindas e duas negativas iniciais. Foi aprovado pelo Ministério da Cultura o valor de R$ 58 mil para a gravação do CD, patrocínio integralmente liberado pela Eletrobrás.
“As empresas podem alegar qualquer coisa para não patrocinar. Tem empresas que fazem uma espécie de licitação para projetos culturais, só que cada uma faz a seleção à sua maneira. E é isso que a Lei Rouanet está querendo mudar. Abrir essa caixa forte. Ao invés da empresa direcionar a escolha, haveria uma fila única de projetos aprovados pela Lei que seriam patrocinados na sequência cronológica de sua aprovação. Não faz sentido a empresa aprovar algo que já foi aprovado pela Lei Rouanet”, explica Ana Martel.
A carreira
Foram mais de 25 anos de carreira até gravar o primeiro CD. “Se tivesse feito antes, talvez não ficasse tão feliz como estou agora”, revela Ana. As razões pela demora na gravação do primeiro trabalho são diversas. “Tem os percalços normais de todo mundo que mora no Norte do Brasil, no Amapá, que tem problemas de toda ordem e não consegue sobreviver da arte. Isso é fato. Mas, também tem a questão pessoal. Eu estava sempre em transição com relação à minha própria arte, se eu gostaria de fazer um CD só como intérprete ou um trabalho mais autoral”, explica.
O primeiro parceiro musical de Ana Martel foi o artista amapaense Zé Miguel, que musicou o poema “Óleo sobre tela”, feito pela cantora em homenagem à comunidade quilombola do Curiaú. A partir daí outros poemas e letras foram nascendo para novas parcerias. Ana Martel resolveu então criar suas próprias melodias. “Estudo violão para aperfeiçoar minha melodia. Tive que aprender a tocar para poder guardar aquilo que eu pensava”, conta ela. O processo criativo de Ana começa com o canto, que depois é adaptado para os acordes do violão.
Apesar de estar prestes a lançar um trabalho essencialmente autoral, a cantora pisa com cautela na nova fase, a de compositora. “Se eu tiver que me apresentar hoje, sou Ana Martel, cantora. Quero que primeiro as pessoas avaliem o meu trabalho para que depois eu possa dizer cantora e compositora. Não existe compositor sem o público que aprecia o trabalho. Temos que esperar sempre do público, ele é que diz se o seu trabalho vale à pena”, define Ana.
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