Um corredor escuro, vizinho das copas das árvores aquietadas pelo fim da chuva, termina com a porta dupla sob uma enorme e chamativa placa branca: UTI – Unidade de Tratamento Intensivo. Perto da meia noite espero do lado de fora por um chamado da funcionária que preenche formulários.
Amparada na mureta lateral, observo além do pequeno bosque um prédio com janelas abertas. Em uma delas a mulher jovem passa um pente na pele do seio esquerdo, estimulando a produção de leite, enquanto segura com delicadeza o bebê acomodado no outro braço. Tem um semblante tranquilo e sorri.
A porta dupla da UTI se abre e o funcionário pede com gentileza: Moça passe para o outro lado do corredor, por favor, que vamos sair com um óbito. Dois auxiliares surgem empurrando a maca com um corpo aparentemente robusto, coberto por lençóis azuis dos pés à cabeça. São ágeis na manobra.
Olho sem medo e faço uma prece para o acolhimento daquele espírito nos planos mais altos do universo. Num piscar de olhos o corpo e os auxiliares desaparecem na curva do corredor. Soube mais tarde que se tratava de um homem idoso. Nenhum parente o esperava, e a morte mais uma vez provara sua imponderabilidade.
Do outro lado das copas das árvores as mães amamentam, ninam e acarinham seus recém-nascidos. Dezenas de novas vidas berrando, expandindo seus pulmões, aprendendo a respirar e a se alimentar. É o fluxo de ir e vir entre dimensões que ainda estão além da compreensão dos homens. Minha fé me acalma.
Amparada na mureta lateral, observo além do pequeno bosque um prédio com janelas abertas. Em uma delas a mulher jovem passa um pente na pele do seio esquerdo, estimulando a produção de leite, enquanto segura com delicadeza o bebê acomodado no outro braço. Tem um semblante tranquilo e sorri.
A porta dupla da UTI se abre e o funcionário pede com gentileza: Moça passe para o outro lado do corredor, por favor, que vamos sair com um óbito. Dois auxiliares surgem empurrando a maca com um corpo aparentemente robusto, coberto por lençóis azuis dos pés à cabeça. São ágeis na manobra.
Olho sem medo e faço uma prece para o acolhimento daquele espírito nos planos mais altos do universo. Num piscar de olhos o corpo e os auxiliares desaparecem na curva do corredor. Soube mais tarde que se tratava de um homem idoso. Nenhum parente o esperava, e a morte mais uma vez provara sua imponderabilidade.
Do outro lado das copas das árvores as mães amamentam, ninam e acarinham seus recém-nascidos. Dezenas de novas vidas berrando, expandindo seus pulmões, aprendendo a respirar e a se alimentar. É o fluxo de ir e vir entre dimensões que ainda estão além da compreensão dos homens. Minha fé me acalma.
4 comentários:
Márcia, a chuva tem sempre uma canção pra embalar o rir e vir entre as dimensões. Não é?
Tem sim. Acho mesmo que ela é quem traz os recados do alto.
obrigada, Márcia querida, pela sensibilidade em falar de algo tão grandioso como vida e morte.
Quem sabe, um dia nos encontramos todas, além das copas das árvores...
quem sabe...
abraço!
Ana Maria
Nos encontraremos sim, e dançaremos a dança da chuva, lá onde ela começa pra mandar nossos recados. Abraço querida!
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