Há quase trinta anos o ouvi pela primeira vez, foi num teatro ao lado de três grandes artistas, meus amigos. Foi ali, naquele momento, que mais entendi muitas coisas que via, ouvia e convivia nas minhas andanças pelo interior da região exercendo minha profissão de sustento. Naquele instante, com surpresa e encantamento, fiquei frente a frente com um dos trabalhos mais originais e instigantes que já ouvi na música brasileira. Um dos mais contemporâneos e importantes da Amazônia e do Brasil.
Era como se estivesse diante de uma entidade. Foi avassalador, não havia nada parecido. Uma estridência, como vozes de tudo que vive na floresta e nos rios, naquela sonoridade. A harmonia, o ritmo, o andamento, uma surpresa inesperada atrás da outra. As letras, quase um dialeto; linguagem reconstruída ou rearrumada a partir da oralidade amazônica e do som das palavras e expressões colhidas da formação cultural, da nossa mistura étnica e racial. Um ajuntamento de vivências e modos vindos de todos os tempos. Viola e violão tocados com precisão incomum e uma voz que passeava também pelo falsete com naturalidade vibrando na possibilidade de cada canção deixada dentro da gente.
Foi emocionante e definitivo. Ali na minha frente estava um Mestre, mostrando com sua obra e seu jeito de apresentá-la o que não imaginava possível reunir na criação; limpidez, diferenciamento e originalidade construída na complexidade e na sofisticação da simplicidade. Tudo ali, uma sagração do homem, da sua história e da natureza nas suas maiores e menores partes. O som da exuberância e do mais comum do cotidiano da Amazônia, da maneira de falar e se contar dos caboclos ribeirinhos, seus habitantes.
Assim comecei a conhecê-lo e conhecer sua obra - formato próprio e atemporal vestida de uma dinâmica surpreendente, em harmonias cheias de sutilezas e compassos inusitados entrecortados pela sonoridade das palavras recheadas de termos, oralidades, modos, encantarias e expressões cunhadas pelos povos que aqui se misturaram ao longo do tempo e por suas histórias nem sempre pacíficas.
Compositor, instrumentista e cantor, escritor, dramaturgo, poeta, jornalista e arquiteto paraense, amazonida e brasileiro.
Um Mestre - humanista quando escreve pra teatro, quando fala em sua poesia, de injustiças, de pessoas que se comprometem com a luta por mais igualdade, humanidade e dignidade, quando se coloca em defesa da natureza com a intimidade de quem traduz seus sons. Jornalista aguerrido e conceituado sempre exerceu a profissão sem abrir mão do que pensa, de seu conhecimento cultural e de sua sensibilidade.
Poucos artistas se aprofundaram tanto em seu ofício e produziram obra tão complexa, seja na linguagem musical, na oralidade ou em sua percepção dos modos amazônicos. Poucos influenciaram tanto e tão naturalmente.
Sua música é um canto que ressoa de dentro da floresta, de dentro dos rios, de dentro da realidade ribeirinha. Pegam a gente por um lado inesperado, parece sentimento moído pelo tempo e sem tempo no tempo. Parece suspenso no ar. Um inesperado que as vezes choca, as vezes tem a brandura das águas silenciosas e as vezes a própria linguagem delas em fúria. E ressoa... ressoa num canto em que os tons são absolutamente naturais, o timbre parece conter ora o penetrante de um grito, ora o momento mais íntimo de tudo que vive e sussurra o mais temporal cotidiano da Amazônia.
A importância do seu trabalho vai varar o tempo, vai influenciar mais do que já faz agora e sua força e limpidez restará para muitas gerações. Por isso é recomendado para quem quer conhecer a sonoridade da Amazônia em sua mais profunda percepção.
À benção Walter Freitas.
Obrigado Mestre.
Marcos Quinan
Era como se estivesse diante de uma entidade. Foi avassalador, não havia nada parecido. Uma estridência, como vozes de tudo que vive na floresta e nos rios, naquela sonoridade. A harmonia, o ritmo, o andamento, uma surpresa inesperada atrás da outra. As letras, quase um dialeto; linguagem reconstruída ou rearrumada a partir da oralidade amazônica e do som das palavras e expressões colhidas da formação cultural, da nossa mistura étnica e racial. Um ajuntamento de vivências e modos vindos de todos os tempos. Viola e violão tocados com precisão incomum e uma voz que passeava também pelo falsete com naturalidade vibrando na possibilidade de cada canção deixada dentro da gente.
Foi emocionante e definitivo. Ali na minha frente estava um Mestre, mostrando com sua obra e seu jeito de apresentá-la o que não imaginava possível reunir na criação; limpidez, diferenciamento e originalidade construída na complexidade e na sofisticação da simplicidade. Tudo ali, uma sagração do homem, da sua história e da natureza nas suas maiores e menores partes. O som da exuberância e do mais comum do cotidiano da Amazônia, da maneira de falar e se contar dos caboclos ribeirinhos, seus habitantes.
Assim comecei a conhecê-lo e conhecer sua obra - formato próprio e atemporal vestida de uma dinâmica surpreendente, em harmonias cheias de sutilezas e compassos inusitados entrecortados pela sonoridade das palavras recheadas de termos, oralidades, modos, encantarias e expressões cunhadas pelos povos que aqui se misturaram ao longo do tempo e por suas histórias nem sempre pacíficas.
Compositor, instrumentista e cantor, escritor, dramaturgo, poeta, jornalista e arquiteto paraense, amazonida e brasileiro.
Um Mestre - humanista quando escreve pra teatro, quando fala em sua poesia, de injustiças, de pessoas que se comprometem com a luta por mais igualdade, humanidade e dignidade, quando se coloca em defesa da natureza com a intimidade de quem traduz seus sons. Jornalista aguerrido e conceituado sempre exerceu a profissão sem abrir mão do que pensa, de seu conhecimento cultural e de sua sensibilidade.
Poucos artistas se aprofundaram tanto em seu ofício e produziram obra tão complexa, seja na linguagem musical, na oralidade ou em sua percepção dos modos amazônicos. Poucos influenciaram tanto e tão naturalmente.
Sua música é um canto que ressoa de dentro da floresta, de dentro dos rios, de dentro da realidade ribeirinha. Pegam a gente por um lado inesperado, parece sentimento moído pelo tempo e sem tempo no tempo. Parece suspenso no ar. Um inesperado que as vezes choca, as vezes tem a brandura das águas silenciosas e as vezes a própria linguagem delas em fúria. E ressoa... ressoa num canto em que os tons são absolutamente naturais, o timbre parece conter ora o penetrante de um grito, ora o momento mais íntimo de tudo que vive e sussurra o mais temporal cotidiano da Amazônia.
A importância do seu trabalho vai varar o tempo, vai influenciar mais do que já faz agora e sua força e limpidez restará para muitas gerações. Por isso é recomendado para quem quer conhecer a sonoridade da Amazônia em sua mais profunda percepção.
À benção Walter Freitas.
Obrigado Mestre.
Marcos Quinan
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