3 de jan. de 2010

Ai que inveja do meu primo Krishna Das

Com seis anos de idade tudo parece muito. Distâncias então! A estrada Macapá-Santana, como chamávamos na época a Rodovia Duque de Caxias que atravessa a Lagoa dos Índios, hoje toda povoada em volta, nos anos 70 era um ermo só. O quartel do Exército, um pouco antes da Lagoa, já era fora da cidade. E haja chão até a lonjura da Vila Amazonas, da Icomi/Brumasa, que mais parecia uma cidadezinha americana dos filmes da Sessão da Tarde.

Era lá que morava meu pequeno primo Richard a quem eu, meu irmão mais velho e meus pais visitávamos quase todos os finais de semana. Um fofinho de calça enxuta apaixonado por aviões. Adorava sentar no pátio da casa arejada do Staf, com grama por todos os lados, calçadas bem definidas e asfalto impecável na frente para brincar com aquele pequerrucho gorduchinho. Tinha aviões de todos os tamanhos, de miniaturas de Boeing a aviãozinho de papel, e ele pirava com todos. Vai ser piloto, diziam.

Passados muitos anos, hoje me lembrei do Richard com mais carinho porque é seu aniversário. Morro de inveja do que ele se tornou. Na infância de todos nós, no meio do pátio havia sempre uma lata de bolacha doce que eu devorava enquanto brincávamos. Comilona, chorona, emotiva, reflexiva extremada, tudo muito... Resultado, peia para conquistar equilíbrio, paz interior, saúde, disposição para exercícios, etc. E o Richard lá, apontando para o céu com aquele dedinho miúdo, buscando seu sonho de voar.

Metáfora perfeita. O menino de calça enxuta apaixonado por aviões não se tornou piloto de aeronaves, muito menos engenheiro de aviação. Passou pela Escola de Cadetes da Aeronáutica mas não se adaptou. Não era aquele tipo de disciplina que buscava. Fez um vôo mais alto, para dentro de si mesmo. Rigoroso, determinado, disciplinado, Richard hoje é Krishna Das, mestre em Yoga bastante requisitado em São Paulo. Sereno, dedicado, cuida da própria alimentação como quem cumpre um ritual, tudo balanceado e natural.

Quanto a mim, consegui algum progresso na Yoga, brigo com a má alimentação todos os dias – acho que estou vencendo a guerra, enfrento a indisciplina com cara de paisagem, mas também vislumbro progressos nesse campo. Meu vôo para dentro não é num Boeing, mas num monomotor puf puf. Na próxima encarnação chego lá.

Feliz aniversário querido primo Krishna Das. Quando crescer quero ficar assim feito você, de cabeça para baixo sem que o mundo pareça desgovernado.

Márcia Corrêa

2 comentários:

Deuzuite Ardasse disse...

Me lembro também dos bailes no clube da ICOMI. A viagem era longa mas valia a pena.
Paranbéns ao seu primo. Você também é uma vencedrora. É uma excelente jornalista. Adoro o que escreves.

Márcia Corrêa disse...

O baile das flores em Serra do Navio era dos melhores. Cheguei e frequentar na adolescência.