Sobre o Rio Amazonas, à direita e à esquerda, se lançam o Içá e o Caquetá, o Jumundá e o Juruá, o Trombetas e o Jari, o Xingu e o Tocantins. Feito um só, vêm correndo entre selva, ilhas e praias, servindo aos povos da floresta. A todos marcando a pele e o sangue, emprenhando-os de identidade e orgulho.
Os animais e os pássaros se achegam à mata. À diversidade da fauna se soma a vida vegetal. Lá estão também os índios e os ribeirinhos. Todos em comunhão reforçam vínculos e se entregam a relacionamentos de lógica ímpar: é o rio Amazonas e a floresta amazônica doando seu ar místico secular aos que deles se aproximam para ali permanecer.
Assim, plenos de mistérios, a Amazônia e o rio Amazonas soam trombetas para anunciar que mais uma de suas filhas vem para se distinguir. E ela vem ela toda faceira lá de Macapá, abençoada pela densa mata e pelo rio mar: Patricia Bastos, que se valendo do Projeto Pixinguinha de Editoração, gravou Eu sou caboca, seu quarto CD.
Por esse bom disco, vislumbra-se seu destino de cantora que tem nítida em sua alma a importância do seu cantar amazônico, marcado a ferro em sua personalidade.
Para cada levada seu instrumento, sua linguagem, sua ancestralidade, marabaixo, batuque, lundu, maracatu, carimbó, samba, retumbão, jongo, alujá. Sobre eles a música vem como pororoca rio abaixo. Sobre eles o versejador cria rimas com a força de expressivas orações.
Para cada levada seu instrumento, sua linguagem, sua ancestralidade, marabaixo, batuque, lundu, maracatu, carimbó, samba, retumbão, jongo, alujá. Sobre eles a música vem como pororoca rio abaixo. Sobre eles o versejador cria rimas com a força de expressivas orações.
Interligadas pela pele do curimbó, pelas sementes do ganzá e por outros tantos instrumentos que dão à música o sentido pleno de ser quando unida à poesia, as catorze faixas do álbum são de plena unicidade. E o que não falta em Eu sou caboca são competentes instrumentistas, ótimos melodistas e inspirados letristas.
Os arranjadores Adelbert Carneiro, Aluisio Laurindo Jr., Paulo Bastos e Dante Ozzetti (este, arranjador da sua “Demônio de Batom”, que tem letra provocante do poeta Joãozinho Gomes), arregimentaram formações que deram ao repertório a força que carece e merece a voz de Patricia Bastos.
As especiais participações vocais de Nilson Chaves em “Filho de Uaranã” (Rafael, Pedro e Rita Altério), ritmo quente marcado por percussão calorosa, e de Vitor Ramil em “Pequeno Pescador” (Vicente Barreto e Joãozinho Gomes), canção de raro lirismo, realçam a cumplicidade que Patricia ainda quer maior, pois já conhece o valor da integração solidária entre o rio e a floresta.
O repertório é exemplo de como Patricia bem o sabe escolher. Celso Viáfora vem com a sua bela “Crença” e com a percussiva “Eu Sou Caboca” (com Joãozinho Gomes). A conhecida “Natureza”, de Rosinha de Valença e Leci Brandão (“Ê, natureza/ Ê, natureza tão bom...”) aclara a competência da intérprete e chama adjetivos: cafuza buliçosa, mestiça calorosa, índia caudalosa, cantora de respiração encaixada, de suingue contagiante, voz delicada, mas firme, agudos precisos, emoção encorpada... Patricia Bastos.
Por Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4
Por Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4
Coluna publicada nos jornais:
* Diário do Comércio (SP)
* Meio Norte (Teresina)
* Jornal da Cidade (Poços de Caldas)
* A Gazeta (Cuiabá)
* Brazilian Voice (uma publicação voltada para os brasileiros residentes em toda Costa Leste dos EUA).
* Meio Norte (Teresina)
* Jornal da Cidade (Poços de Caldas)
* A Gazeta (Cuiabá)
* Brazilian Voice (uma publicação voltada para os brasileiros residentes em toda Costa Leste dos EUA).
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