Foto: Chico Terra
O nome Antônio Munhoz Lopes é quase uma marca. Atento a tudo, aos 77 anos o professor de literatura mais celebrado do Amapá não está mais nas salas de aula há anos. Mas, longe de se aposentar da expressão viva da transmissão do conhecimento, é chamado e atende com disposição jovial sempre que o assunto é ensinar e aprender. Professor de letras e lingüística, bacharel em Direito, escritor, membro do Conselho de Cultura do Amapá, diretor de acervo cultural da Confraria Tucuju, um currículo respeitável. Mais respeitáveis ainda são suas idéias e considerações sobre a educação e a leitura.
Pepel de Seda
Pepel de Seda
Seus ex-alunos o reconhecem como um grande mestre, sobretudo no incentivo à leitura. O senhor costuma dizer que ama os livros. Como esse amor nasceu na sua vida?
Prof. Munhoz
Prof. Munhoz
O início desse amor está na minha infância quando descobri que meu pai tinha uma biblioteca. Havia livros de poesia, romances, não só uma literatura científica, porque ele era farmacêutico. Com o tempo fui desenvolvendo esse amor, não pelos livros, mas o amor pela leitura.
Fui o primeiro professor no Amapá, para escândalo de muita gente na época, a levar para a sala de aula revistas e jornais para atualizar o aluno. Para que ele não ficasse só com a leitura dos romances dos séculos XVIII, XIX e XX, mas com a leitura da realidade presente. Quando Kennedy foi assassinado e o Papa João XXIII morreu, eu levei as manchetes para a sala de aula e nós lemos, comentamos e na prova final eu cobrei uma dissertação sobre as mortes dessas grandes figuras do século.
Pepel de Seda
Fui o primeiro professor no Amapá, para escândalo de muita gente na época, a levar para a sala de aula revistas e jornais para atualizar o aluno. Para que ele não ficasse só com a leitura dos romances dos séculos XVIII, XIX e XX, mas com a leitura da realidade presente. Quando Kennedy foi assassinado e o Papa João XXIII morreu, eu levei as manchetes para a sala de aula e nós lemos, comentamos e na prova final eu cobrei uma dissertação sobre as mortes dessas grandes figuras do século.
Pepel de Seda
O incentivo à leitura deve passar então pela percepção dessa realidade presente?
Prof. Munhoz
Prof. Munhoz
Exatamente! Não é uma leitura apenas para deleite pessoal. Mas, uma leitura que enriquece os seus conhecimentos e que o atualiza diante do mundo de hoje, onde tem a televisão, o rádio, a revista e, sobretudo, a internet que deu um avanço extraordinário ao conhecimento.
Pepel de Seda
Pepel de Seda
Qual o papel da família no envolvimento da criança com a leitura?
Prof. Munhoz
O amor pelos livros começa em casa. Então, pergunto: numa casa onde não entram revistas, jornais e livros como a criança pode despertar para a beleza e para a necessidade da leitura? A família é fundamental neste aspecto.
Pepel de Seda
Pepel de Seda
Qual a abrangência da leitura na vida das pessoas?
Prof. Munhoz
A leitura tem aspecto intelectual, moral, científico e mesmo religioso. Nos primeiros tempos do cristianismo os apóstolos falavam da doutrina cristã, mas eles incentivavam a leitura dos livros sagrados. Todos os mosteiros tinham bibliotecas e se muitas obras chegaram até nós foi devido aos copistas que viviam nos mosteiros somente copiando essas obras.
Pepel de Seda
Pepel de Seda
Qual a relação da leitura com a escrita, do ponto de vista metodológico, na sala de aula?
Prof. Munhoz
Prof. Munhoz
Há um provérbio latino que diz, traduzido, quem escreve lê duas vezes. A pessoa tem que ler e tem que escrever. Se você lê, a sua inteligência, o seu pensamento, a sua fantasia entram em ebulição e você faz questão de escrever. E escrever é fundamental quando você conhece as regras da gramática. Não existe conhecimento de uma língua sem conhecimentos gramaticais. Houve uma época em que se quis deixar a gramática de lado. Um bom professor de português deve ter em casa uma boa gramática e um bom dicionário, e todos nós que escrevemos e lidamos com a língua.
5 comentários:
PROFESSOR MUNHOZ.
O ENSINADOR QUE QUANDO ENTRAVA NA SALA DE AULA
TRAZIA CONSIGO AS PINTURAS, OS RABISCOS, OS ESBOÇOS, AS ESCULTURAS, E A PALAVRA ENORME DOS GRANDES MESTRES QUE PARECIA BULIÇOSA E QUE NOS FEZ AMAR A ARTE DE ESCREVER.
SINA QUE AINDA HOJE CARREGAMOS ENTRE O POLEGAR E O INDICADOR.
Ótima entrevista, pq prof Munhoz sabe falar bem sobre a importância da leitura.
Marcia, sou tua fã na maneira de entrevistar, sempre perguntas curtas, simples e importantes.
Olha, a editora Sâmia, da Rádio Nacional (fomos colegas de curso na Paraíba), me pediu dicas de boas fontes de eventos culturais de qualidade no Amapá e eu indiquei teu blog. É que a radio nacional tem espaço pra isso, bacana ne, eu nem sabia.
Tchau. bjs.
Dulci,
Muito legal sua indicação.
Luiz,
Munhoz continua vigoroso em sua paixão pela literatura e pelo conhecimento.
Saudades do meu querido e amado mestre no IETA em l970. Suas aulas eram na época, já com metologia moderna. Criativo. Sempre valorizando nossos trabalhos.
E você Márcia querida, fazendo entrevistas maravilhosas para nosso deleite.
Querido Munhoz, o grande responsável por eu ter deixado o vestibular de Medicina e enveredado por Letras e Jornalismo. Se eu amo ler desde pequena, devo a ele o estímulo maior à vocação.
É o Professor de quem mais lembro, o que mais me influenciou. Suas aulas eram deleite puro - suas viagens inspiradoras, a maneira de contar as coisas. Eu realmente me emociono ao lembrar de Munhoz.
Sempre amarei você, professor querido. Sempre.
De longe, de Brasília, meu amor lhe acompanha, mestre!
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