A casa de Maria se ergue lentamente, esteio por esteio, moldura de esperança no céu pinicado de estrelas miúdas. É noite sem luz elétrica e o firmamento asserenado espia do alto o silêncio se formar no bairro novo, distante do barulhento modo de viver da cidade. Ainda é assim naquela rua de chão empoeirado, onde a pequena moradia cria jeito de morada.
O vento se mudou pra lá junto com Maria e os seis meninos. Faz o lugar parecer um sossego, convidando a gente a ficar. Naquela hora da noite os sons parecem brincar de pira-esconde: o latido do cão invisível, o miado de um gato esgueirado pela sombra, o farfalhar delicado de uma árvore adolescente. Todo silêncio preenchido de pequenos sons de vida simples é abençoado.
Maria tem uma força intangível, expressa na verdade incontida do seu olhar. Protege e guia aqueles meninos e meninas com o bastão mágico do amor que não reconhece a fronteira da pobreza. Suas asas morenas e magras abraçam mesmo aquele que já se foi, o menino mais velho levado pelo tráfico. Na porta improvisada de tábuas está riscado com a tinta da saudade o nome dele.
De dia Maria faz diárias como doméstica quando aparece, de noite pedala uma lonjura sem par até a escola para concluir o ensino supletivo. E sorri! Tem mesmo um sorriso limpo, quase alegre, não fossem as linhas de tristeza que um olhar mais detido consegue perceber em seu rosto. Talvez porque consiga, com naturalidade contagiante silenciar, agradecer e mover-se na direção do fazer.
Um comentário:
Gosto do seu estilo. Parabéns. Beijos para ti
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