11 de jul. de 2011

Ecos do passado na calçada

Perto do sol do meio-dia as pessoas se tornam efêmeras. Passam impessoais pelo trânsito confuso da calçada suja e irregular do Hospital de Especialidades. O ex-prefeito cabisbaixo caminha lento e talvez nem lembre de quando sua propaganda dizia: “Macapá vai brilhar”. Idos anos 80 e, desde então, o brilho mesmo tem sido das poças de lama no inverno e dos sacos plásticos e latinhas de alumínio reluzentes à intensa luz do dia.
Uma mulher magra e de expressão desesperançosa carrega o bebê miúdo que quase se perde em seus braços. Há doença e ausência de cuidado estampados no rosto do povo. Taxistas tagarelam alegremente para passar o tempo, esperando passageiros rareados em tempos de economia ressentida. O carro-baú corta a avenida larga quebrando os galhos das mangueiras que alguém esqueceu de podar.
Hei Macapá, que a gente conhece como a palma da mão e até mais! O que amamos em uma cidade não são as suas contradições, mas o fato de conhece-las, e até o fato de inserirmos nosso caos individual no caos coletivo. O que não amamos é o relógio letárgicos das mudanças. Por aqui parece ter sido jogado o feitiço da bruxa má que adormeceu por cem anos o castelo da Bela Adormecida.
E enquanto a vida remanescente transita pelas calçadas, repito sujas e irregulares, nos resta outra contradição, dessa vez convivendo em permanente diálogo no intimo da alma de cada um. Se por um lado a sensação de impotência desacelera a esperança e estimula o desamor, por outro, o sentimento de poder fazer algo, ainda que em recortes restritos, liberta a mesma esperança e alimenta o amor.
Mesmo porque o amor é assim mesmo, caudal de contradições com uma única certeza, o porvir será sempre ensolarado. Por isso, seguimos com o peito arfando ao sol do Equador, habitando a cidade e quem sabe um dia o slogan do ex-prefeito, hoje transeunte quase irreconhecível, possa surgir como um eco do passado, daquilo que um dia foi sonhado. Macapá ainda há de brilhar.

Um comentário:

jocenilson disse...

a responsabilidade pelas mudanças de quem é??? nossa??? do executivo??? do legislativo???? em meio a toda essa descentralizaçao fica dificil ate cobrar atitudes pq todo mundo joga a culpa no outro, a coisa tah feia!!!!!!