24 de jan. de 2013

Pétalas de chuva

Era assim a madrugada com ausência da chuva. Silenciosa, desatenta, acabrunhada. É a chuva que lhe dá sentido, eleva sua valsa de rumores para a condição de hino dos amantes, dos amores, dos rubores e pecados inocentes. Sem a chuva, a madrugada é oca, sem a pele do inverno, sem a lágrima da Amazônia.

Então é só uma trégua, isso para que a gente de todo lugar sinta o calor do abandono com tanta força, que a solidão de ser vida se faça grito de transformação. Porque solidão não há de verdade, enquanto o que há por dentro de cada um for mistério, dor e inquietude. Só a chuva é capaz de explicar a infinitude, a incompletude necessária das horas, o caminho mais simbólico que o fim.

Então não há fim, muito menos começo. Mas, há sempre o recomeço pra mostrar que o amor é a estrada sagrada sem aflição. O amor é o lago das pétalas de chuva respingadas com delicadeza e sem sofreguidão. É o que é, desde que o arremedo da paixão se cure na sabedoria.



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